02 agosto 2007

Recolhimento

Sê sábia, ó minha Dor, e queda-te mais quieta.
Reclamavas a Tarde; eis que ela vem descendo:
sobre a cidade um véu de sombras se projeta,
a alguns trazendo a angústia, a paz a outros trazendo.

Enquanto dos mortais a multidão abjeta,
sob o flagelo do Prazer, algoz horrendo,
remorsos colhe à festa e sôfrega se inquieta,
dá-me, ó Dor, tua mão; vem por aqui, correndo

deles. Vem ver curvarem-se os Anos passados
nas varandas do céu, em trajes antiquados;
surgir das águas a Saudade sorridente;

O Sol que numa arcada agoniza e se aninha,
e, qual longo sudário a arrastar-se no Oriente,
ouve, querida, a doce Noite que caminha.
(By_Charles Baudelaire)

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